Opinião

Um monstro chamado “Vaidade”!
Vi artistas, atletas, empresa¡rios, pola­ticos, reitores e pessoas comuns serem vitimas das armadilhas preparadas pela astuta vaidade, que tinham o objetivo de fazaª-los crer numa imagem falsa projetada de si mesmos.
Por Geraldo Filho - 06/02/2021


Doma­nio paºblico

Ao longo da vida acumulei observação e experiência suficiente no a¢mbito privado e paºblico para tecer algumas linhas sobre uma caracterí­stica humana complexa e de difa­cil manãtrica, pois ela flutua entre a autoestima da pessoa (o amor-pra³prio) oso que épositivo e desejável ose o orgulho presuna§oso, que énegativo e reprova¡vel: a vaidade.

Por que eu me dedicaria a refletir sobre isto?! Porque com os anos vividos percebi o quanto édesastroso o lado negativo desta qualidade humana, tanto na vida pessoal como na social. A dificuldade, consequaªncia de sua complexidade, éque ela se mistura e afeta a ambas!

Assim, vi artistas, atletas, empresa¡rios, pola­ticos, reitores e pessoas comuns serem vitimas das armadilhas preparadas pela astuta vaidade, que tinham o objetivo de fazaª-los crer numa imagem falsa projetada de si mesmos.

De uma ora para outra um cantor explode com uma música ou um ator rouba a cena numa pea§a, num filme ou numa novela! Pronto, a imprensa em geral (desde sempre) e as redes sociais (hoje) os elevam aos pa­ncaros da gla³ria! Nãolhes faltam ma­dia ou convites para eventos badalados! Sem daºvida que éum momento pessoalmente exultante, mas... o problema éo depois, pois o monstro insidiosamente arma a primeira artimanha: a daºvida!

No auge da fama e do sucesso uma daºvida atroz de repente se insinua: seráque a próxima música, pea§a, filme ou novela tera¡ o mesmo aªxito, capaz de lhes deixar em permanente evidencia? a‰ no contexto de como lidar com o apogeu do reconhecimento osque alimenta o lado positivo da vaidade (a autoestima) e favorece o doma­nio de seu ofa­cio ose a necessidade de manter a regularidade das performances futuras, para as quais não hánenhuma garantia assegurada (eventualmente a escolha das músicas foram erradas e as tramas das pea§as, filmes ou novelas eram uma porcaria), que a vaidade executa sua arte e derruba do pedestal indivíduos com os egos inflados por alegorias delirantes de si mesmos. Para aguentar a experiência incessante da incerteza, muitos se submetem a  fuga alienante da droga, do a¡lcool, da corrupção de diretores e empresa¡rios a troco de aparecer em qualquer programa ou produção arta­stica.

Nãoéerrado pensar sobre a permanaªncia da regularidade do sucesso e como conquista¡-la! Ser reconhecido faz parte dos sonhos de qualquer pessoa, mas énecessa¡rio e fundamental ter consciência de que poucos dentre muitos, em qualquer sociedade, o alcana§ara£o! Isto, por si, já seria suficiente para revelar a da¡diva divina que o sucesso representa (principalmente quando decorre dos dons naturais de um cantor ou ator) e o risco que ele anã, se for maculado e violado pela extravaga¢ncia do orgulho pra³prio exacerbado: a vaidade. Portanto o anta­doto: humildade!

Racioca­nio ana¡logo se aplica para os feitos e conquistas de atletas, empresa¡rios, reitores e pola­ticos. A diferença se encontra no meio pelo qual obtiveram sucesso e reconhecimento, poranãm o medo torturante de perderem os salamaleques e bajulações éo mesmo para todos, pois a rituala­stica ou liturgia que distinguem os bem-sucedidos (os americanos dizem “os vencedores”) em cada ambiente profissional reafirma permanentemente seu prestígio face aos demais e delimita as posições sociais, seja no espaço de trabalho ou na sociedade. Por conclusão, fica claro que o decla­nio do sucesso e do reconhecimento significa perda de poder.

Um amigo observou que cada vez mais me refugio na sabedoria dos textos antigos! a‰ verdade, pois fico cada vez mais convicto de que o Mundo da Antiguidade Greco-Romana atéo fim da Idade Moderna na Inglaterra especulou e descobriu tudo sobre a complexidade do espa­rito humano, não sobre a natureza humana, com a qual forma um par ma­stico e provavelmente inexplica¡vel (a natureza humana éestudada nas últimas décadas pela Neurociênciabiológica buscando entender a relação mente/cérebro/cognição).

Com efeito, como exemplo de aplicação da filosofia estoica, que predominava no mundo romano antes do cristianismo, os generais que eram premiados com triunfos, uma recompensa por suas vita³rias a  frente das legiaµes de Roma, e consistiam num desfile seguido pelas tropas nas ruas da cidade atéa sede do senado, tinham atrás de si um servo que durante a parada repetia constantemente em latim “memento mori”, que quer dizer, “lembre-se, vocêémortal”! O objetivo do principio estoico era recordar a realidade fugaz do sucesso num momento de aªxtase efusivo, no qual o espa­rito do general pudesse se perder em fantasias de poder megala´manas, o que talvez estimulasse sonhos de conquista para além dos desejados e definidos pela organização pola­tica romana. Vejam, portanto, que na Antiguidade os fila³sofos da anãpoca já haviam identificado o perigo para si e para os outros que um ego distorcido por uma autoimagem enganosa poderia acarretar, hoje não édiferente.

O espeta¡culo mais chocante que assisti recentemente, o que creio resume em si todas as travessuras que a vaidade apronta com artistas, atletas, empresa¡rios e reitores, foi o espeta¡culo da despedida de Rodrigo Maia da presidaªncia da Ca¢mara dos Deputados, em 01/02/21! Ante a iminente transição oficial do poder da presidaªncia, exercida durante 4 anos e 7 meses (7 meses de interinidade pela prisão de Eduardo Cunha, presidente anterior; e 2 mandatos de 2 anos em legislaturas diferentes), Maia fez de tudo para permanecer na cadeira! Tentou, junto ao STF, uma interpretação “criativa” da Constituição para poder concorrer novamente, perdeu! Traiu promessas de apoio a s candidaturas de aliados feitas hámuito! Formou um bloco de oposição com partidos (PT e PSol) adversa¡rios figadais do Democratas (seu partido de filiação), são para tentar prejudicar o governo federal, passando por cima de afinidades hista³ricas com os partidos de direita! Por fim, atropelou o rito eleitoral que ele pra³prio estabeleceu ao aceitar a inscrição da chapa que concorria a  composição da Mesa Diretora da Ca¢mara depois do hora¡rio previsto para o fim do registro, ato que foi sumariamente anulado após a vita³ria de Arthur Lira porque afrontava o regimento da Casa!


No mundo do futebol os exemplos são abundantes de atletas que ao ficarem mesmerizados (obcecados) pela imagem projetada de si que o sucesso repentino possibilita entram em decadaªncia com pouco tempo de carreira e deixam de ser o que poderiam ter sido (olhem o “menino Neymar”, o “imperador Adriano” e Alexandre Pato).

No meio empresarial a gana¢ncia pelo dinheiro fa¡cil, evitando a a¡rdua competição no mercado, estimulou grandes construtoras brasileiras a fazerem de tudo para se tornarem “amigas do Rei”, o que na prática significou uma relação promiscua entre empresas e pola­ticos no comando de governos cevadas por gordas propinas compensadas pelas vita³rias nas licitações públicas direcionadas. Eike Batista, JBS e a familia Odebrecht, deuses da era petista, na qual suas empresas eram chamadas “campea£s nacionais” e recebiam financiamento fa¡cil do governo federal, tiveram suas vidas, a­ntimas e públicas, expostas a execração e ao esca¡rnio da sociedade. Fico a imaginar: seráque em nenhum instante, no a¡pice do sucesso e do poder corrompidos, estes indivíduos não pararam para pensar que tudo poderia acabar rapidamente?! Acho que não: a certeza da impunidade e a vaidade de “achar quem eles achavam que eram”, acima de todos os demais cidada£os de uma sociedade, não lhes permitia esta conjectura.

Quanto a  universidade a situação chega a  comicidade! Os reitores não ocupam o posto pelos manãritos acadaªmicos obtidos no exerca­cio de sua ciência de origem. Sa£o eleitos ose isto já éuma distorção, impensa¡vel nas seculares universidades europeias e americanas ospor professores, funciona¡rios e alunos! Como no Brasil as universidades públicas e particulares foram alvo de um plano de aparelhamento por parte dos partidos comunistas desde os anos 60, principalmente cursos de humanidades e saúde, a pola­tica partida¡ria de esquerda contaminou o ambiente universita¡rio, com candidatos ao cargo ma¡ximo da instituição acadaªmica (salvo as exceções de praxe) majoritariamente identificados com partidos pola­ticos deste vianãs. Contudo, isto não impede que a vaidade os tente! Mesmo sabendo que são despossua­dos de reconhecimento cientifico a vita³ria nas urnas acalenta sonhos de grandeza, e de humildes pleiteantes ao cargo se transformam em arrogantes e pedantes. Um ex-reitor ficou conhecido como “rei-tor”, tal a figura insuporta¡vel no trato pessoal no qual se transformou! Hoje padece do castigo do “ostracismo” (pena inventada na Granãcia Antiga para os que atentavam contra a ordem pública de Atenas), que aqui significa “esquecimento”, não ser mais lembrado ou convidado para nada, o que deve ser terra­vel para quem um dia, iludido pela ardilosa vaidade, se achou esplendido!

No entanto, o espeta¡culo mais chocante que assisti recentemente, o que creio resume em si todas as travessuras que a vaidade apronta com artistas, atletas, empresa¡rios e reitores, foi o espeta¡culo da despedida de Rodrigo Maia da presidaªncia da Ca¢mara dos Deputados, em 01/02/21! Ante a iminente transição oficial do poder da presidaªncia, exercida durante 4 anos e 7 meses (7 meses de interinidade pela prisão de Eduardo Cunha, presidente anterior; e 2 mandatos de 2 anos em legislaturas diferentes), Maia fez de tudo para permanecer na cadeira! Tentou, junto ao STF, uma interpretação “criativa” da Constituição para poder concorrer novamente, perdeu! Traiu promessas de apoio a s candidaturas de aliados feitas hámuito! Formou um bloco de oposição com partidos (PT e PSol) adversa¡rios figadais do Democratas (seu partido de filiação), são para tentar prejudicar o governo federal, passando por cima de afinidades hista³ricas com os partidos de direita! Por fim, atropelou o rito eleitoral que ele pra³prio estabeleceu ao aceitar a inscrição da chapa que concorria a  composição da Mesa Diretora da Ca¢mara depois do hora¡rio previsto para o fim do registro, ato que foi sumariamente anulado após a vita³ria de Arthur Lira porque afrontava o regimento da Casa!

O que chamou atenção foi como este espeta¡culo de desespero ficou estampado na fisionomia de Maia! Somatizou! O desequila­brio psa­quico face a  perda de prestígio e poder se refletiu nas enormes olheiras do seu rosto porcino; nas ma£os incomumente traªmulas; no inusual batucar constante dos dedos sobre a mesa; e no choro compulsivo e incontrola¡vel durante o discurso de despedida! O que eu estava presenciando era o espeta¡culo da queda de um vaidoso, que proporcional ao seu rotundo corpo deixou seu ego inflar a ponto de cega¡-lo para a realidade ao redor, tendo no final sido abandonado pelo pra³prio partido e aliados de longa data. No fundo do plena¡rio da Ca¢mara a Vaidade, uma das integrantes da corte da deusa Loucura, bolava de rir as gargalhadas! Como li Erasmo de Roterda£ (O Elogio da Loucura; cujo tí­tulo deve ser interpretado como o elogio que a loucura faz de si) eu a vi la¡!

As opiniaµes expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional do maisconhecer.com

Prof. Dr. Geraldo Filho 
Universidade Federal do Delta do Parnaa­ba  (UFDPar)

 

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